Associação Mata Ciliar enfrenta disputa judicial e risco de perder sede após quase 30 anos de trabalho na reabilitação da fauna silvestre
Disputa por área ao lado do Aeroporto de Jundiaí coloca em risco décadas de trabalho na proteção e reabilitação de espécies ameaçadas.
Jundiaí – Uma importante organização dedicada à preservação da fauna silvestre do Brasil está em meio a um conflito judicial que ameaça sua permanência em uma área que ocupa há quase três décadas. A Associação Mata Ciliar, referência nacional na reabilitação de animais silvestres, pode ser obrigada a deixar seu espaço situado ao lado do Aeroporto Comandante Rolim Adolfo Amaro, na cidade de Jundiaí (SP).
Desde 1997, a ONG atua em um terreno de 33 hectares onde funcionam o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres e o Centro Brasileiro para Conservação dos Felinos Neotropicais. Nesse local, mais de 1.500 animais, incluindo espécies em risco de extinção, como a onça-pintada e o lobo-guará, recebem cuidados especializados. A instituição é reconhecida pela importância do seu trabalho para a biodiversidade brasileira.
A controvérsia surgiu após a concessionária do aeroporto, Rede VOA, assumir a administração do local em 2017. A empresa afirma que cerca de 3 hectares da área pertencem ao sítio aeroportuário e estariam ocupados irregularmente pela ONG. Um dos argumentos da concessionária é o risco que a presença de animais silvestres, especialmente aves de rapina, poderia representar para a segurança das operações aéreas.
O impasse judicial se intensificou em 2020, com a ampliação dos recintos da Mata Ciliar próximos ao aeroporto. Entretanto, a associação nega as alegações, ressaltando a falta de demarcação clara da área e a ausência de documentos oficiais que comprovem a posse pela concessionária. Recentemente, a Justiça rejeitou um pedido liminar de reintegração de posse, por entender que não há base legal suficiente para a medida, mas o processo ainda está em andamento.
Diante desse cenário, uma alternativa considerada seria a transferência das instalações para a Serra do Japi, também em Jundiaí. Porém, os responsáveis pela Mata Ciliar alertam que a mudança seria inviável. Ao longo de 30 anos, a entidade investiu cerca de R$ 25 milhões na infraestrutura atual, que inclui laboratórios, clínicas veterinárias e recintos adaptados para diferentes espécies. A realocação comprometeria o atendimento aos animais, interromperia pesquisas e programas ambientais e representaria uma perda significativa para o avanço da conservação local.
Fundada em 1987, a Associação Mata Ciliar já prestou assistência a mais de 32 mil animais silvestres e mantém parcerias com universidades brasileiras e instituições internacionais, como o Zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos. Seu trabalho vai além da recuperação de fauna, promovendo ainda a educação ambiental e a valorização da biodiversidade.
